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sábado, 30 de abril de 2011

PRIMEIRO ENCONTRO DE FERROVIÁRIOS DE PRES.VENCESLAU/SP








Foi numa manhã de sexta-feira.

O sol havia saído a pouco e nem conseguira esquentar o vento frio que arrepiava a pele do braço da minha mãe, uma senhora esperta às vésperas de completar setenta anos.

O convite fora feito pelo então presidente da AVL - Academia Venceslauense de Letras na tentativa de agremiar os remanescentes da extinta FEPASA - Ferrovia Paulista S.A.

Não esperava que fosse encontrar muita gente, mas acabei frustrado ao adentrar a sala de reuniões e não encontrar ninguém a nossa espera. Nem um velho guarda chaves, como era denominado um senhorzinho que residia numa casinha simples, ali bem ao lado da primeira chame de mudança de linha que dava acesso a estação ferroviária.

Era uma época em que surpresas não eram comuns, porém, algumas coisas jamais deixariam de acontecer.

O trem de passageiros não chegar no horário até seria compreendido como algo estranho e, certamente, prenúncio de alguma tragédia ocorrida pelo caminho, mas o velhinho, baixinho, barrigudinho, semi-calvo e com sorriso largo sempre bem humorado jamais deixaria de ser visto ali, sentado no seu banco de décadas, aguardando o trem e zelando para que ninguém movimentasse a chave proporcionando uma tragédia. Ele representava em nossos corações a certeza do bom funcionamento da ferrovia e da metódica que envolvia proporcionar a todos um serviço de qualidade.

Antes de ser povoado por novas lembranças outros da gigantesca família ferroviária iam chegando e se acomodando para o que seria a melhor manhã de abril daquele ano.

Conversamos... lembramos do passado com detalhes que só quem viu "in loco" poderia contar. Nos demos ao deleite de compartilhar nossas histórias regadas a sentimentos de nostálgica alegria, remetendo todos a um passado que se materializou rapidamente nos corações daquela sala. Calados, exibiam sorrisos de entre lábios, recheados de alegria contemplativa e olhares lacrimejados.

Realmente uma manhã para ser lembrada e rememorada ano a ano como forma de legado ao presente daquilo que de melhor vivemos no passado.

Ser ferroviário sempre foi motivo de orgulho. Construíam-se vidas, famílias e laços de amizade eterna. A ferrovia era o patrão gigante que visitava um a um de seus filhos, acenando com a buzina a movimentar nossos corações com um misto de orgulho e de arrependimento. Orgulho por fazer parte das grandes vitórias. Arrependimento por não ter escolhido o cargo de maquinista - o homem que conduzia o patrão.

Ser ferroviário era levantar a qualquer hora com orgulho de si. Com a responsabilidade de fazer com esmero sua parte na grande engrenagem que fazia do trem o maior dos espetáculos.

Resumiu-se em pouco mais de duas horas de reunião que ser ferroviário é ser da família do trem...da linha.

É ter a capacidade de fechar os olhos e sentir o cheiro da estação, com gosto de apito e buzina que vibrava o coração.

Somos e sempre seremos... "Os Filhos do Trem".



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