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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

SELECIONADO PARA O LIVRO CONTOS DA MEIA-NOITE

Conto de Luciano Esposto selecionado para compor o livro:



                                                             O SOL NÃO APARECEU


Acordei, como de costume, ao som da melodia que marcou minha vida. Eram oito da manhã segundo meu celular.
Abri a porta e fui para a sacada na tentativa de respirar o ar da manhã daquele inverno ainda lento, mas tudo parecia estranho. O sol não estava lá !
Um fianco de raciocínio me fez acreditar que o céu poderia estar nublado; mas, olhando fixamente, vi constelações e satélites brilhando como nunca, ainda que não visse a lua.
O raciocínio e a sensatez cobravam meu bom-senso ávido por respostas coerentes e resolvi sair à rua. Sem rumo caminhei silente percebendo o desespero das pessoas. Na padaria da esquina, um público cativo lotava o balcão próximo da TV onde nem os “experts” da meteorologia e física quântica conseguiam dar uma explicação que ao menos tranquilizasse a população. O dia tinha virado noite e isso era fato !
Olhei o celular quando o bip marcou dez horas e a noite ainda estava lá. Continuei minha caminhada e, por onde passava, sentia a angústia consumindo as pessoas. Templos, igrejas, casas de oração, todos repletos com seus pecadores na busca de redenção rápida, talvez acreditando tratar-se de Apocalipse.
O comércio estava uma balbúrdia. As poucas lojas que abriram logo fecharam com receio de saques, arrastões e todo tipo de violência que começava a dar anúncio de acontecer. Algumas, porém, nem abriram; talvez porque aos donos faria pouca ou nenhuma diferença o lucro.
Sentei-me na mureta do outro lado da avenida. Apesar do completo caos, da correria e do ar de final dos tempos; não queria me contaminar com aquilo ou, ao menos, pretendia apenas ficar lúcido.
Olhei novamente o celular que já marcava treze horas. A essa altura a fome dera lugar à ansiedade. Ninguém sabia o que viria a seguir. Olhei o céu e, novamente, as estrelas estavam lá... brilhando como nunca. Por um momento senti como se estivéssemos numa noite de verão após a costumeira e temperada chuva que acalenta o calor. Estou perdendo os sentidos, eu acho! Não posso entrar em confusão mental apesar da sensação de cabeça pesada como se ganhasse uma gripe.
A essa altura a dúvida deu lugar ao desespero coletivo. Pessoas corriam em fluxo constante de um lado a outro em grupos fazendo lembrar a dança de rubros flamingos.
Enquanto assistia a tudo aquilo, fiquei pensando a quem atribuir a culpa de tal absurda de coisa. Seria a tão anunciada “guerra nas estrelas” com suas bombas atômicas a se digladiarem com os foguetes anti bomba americanos a desinformação de todos? Não ! Improvável em tempos de paz.
Talvez um teste malsucedido no espaço, mas isso seria capaz de causar tamanho cataclismo? Bobagem ! Devaneio e só!
Um novo bip do celular indicava dezessete horas. Horário do meu dentista. Mas, pensando bem, sorrir para quê? Para quem? Por quê? Diante dos acontecimentos sorrir não seria uma solução. Decidi não ir e resolvi voltar ao apartamento, pois o centro passou a tornar-se perigoso. Brigas e violências de todos os tipos já se via propagando pelas esquinas e ruas simultaneamente.
No caminho fazia um paralelo entre Deus e no homem. Seria isso tudo um sinal? Um prelúdio do resultado de nossos próprios males? Do nosso pecado ou daquilo que queira dar o nome?
Subia pelo elevador, que ainda funcionava, enquanto algumas certezas começavam a permear meus pensamentos.
O homem tem sido hipócrita consigo mesmo atirando no próprio pé com atitudes equivocadas, praticadas por alguns em detrimento da maioria, como se alguém conseguisse viver sozinho no mundo. O lucro a qualquer preço ficou entrincheirado na certeza de só valer a pena se tivermos para quem vender ou com quem compartilhar nossos produtos... nossas vidas.
A natureza teria vindo cobrar sua fatura a mando do próprio Criador que passivo, bondoso e infinitamente paciente teria dado mais que o tempo necessário para nos redimirmos? Talvez essa fosse a única coisa fazendo sentido nisso tudo.
Apanhei um copo de leite e um pedaço de pão e fui comer no sofá. Agora o relógio do aparelho de DVD marcava vinte horas. Ao menos nesta hora o céu começou a fazer um pouco de sentido. Estava escuro como de costume, mas não arrisquei ligar a TV e abri a porta da sacada. Queria sentir o da noite como ela tem que ser. Uma brisa fresca me acompanhava com os olhos. A rua parecia mais calma como se as pessoas estivessem querendo acreditar que tudo não passara de um mal-entendido absurdo, um pesadelo, talvez.
Sentei novamente no sofá onde vi uma enorme estrela de brilho intenso e adormeci.
O brilho da estrela começou a incomodar meus olhos. Sua intensidade aumentava a cada instante. Foi quando acordei com os primeiros raios de sol a me lamber a face.
Olhei de soslaio e percebi que havia adormecido. Teria tudo não passado de um sonho? Levantei e peguei o celular para ver a data. Não! Não foi um sonho!
E o mundo pela primeira vez percebeu sua insignificância tendo seu primeiro dia sem sol.
Recado de Deus? . . . Talvez!
A única certeza que tinha era que a culpa não fora só minha.



http://www.camarabrasileira.com/contosdameianoite.htm
   

3 comentários:

  1. PARABÉNS, ESCRITOR!!! Seu conto é simplesmente fantástico!!! Abraço enorme!!!

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  2. lu, viajei em seu conto!!! q talento!!! amei a capa do livro!!! parabéns!!!!
    ...Genti!!!!!! descupa ai...
    é meu irmão e cunhado!!!! rsrsrsrs q orgulho de você!!! ti amo bjus fla

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