Estou postando logo abaixo um texto sobre história de pescador.
Como escritor, todo tipo de história, seja verdadeira ou não, me causa fascínio. Ver a sensação da pessoa que conta, ou mesmo dos interlocutores interpelando- a e querendo saber detalhes, mexe conosco de tal forma que deixar de escrevê-la fica quase impossível.
Quanto a veracidade dos fatos, ora, é uma história de pescador. Quem contava jurava ser verdadeira, mas...
HISTÓRIA DE PESCADOR
Era
uma daquelas noites quentes de verão quando a lua consegue iluminar tudo à
nossa volta.
No
barco, estava o velho pescador e seu amigo de incontáveis pescarias. Haviam
ouvido alguém contar que, dias antes, naquele mesmo local, alguém conseguira
pescar um peixe bem graúdo, um “pintado”, daqueles de conseguir fazer uma
peixada inteira indo do pirão ao torresminho.
Foi
só o tempo de acabar a cerveja que tomavam para voltarem a suas casas e
arrumarem a ”traia” saindo naquela mesma tarde.
O
pintado é peixe de hábitos noturnos. Sua pescaria demanda tempo e paciência
além de iscas das mais variadas. Varas resistentes, anzóis de encher a palma da
mão e uma boa dose de sorte também são necessários.
A
madrugada já vigiava o barco quando o velho pescador resolveu acender um
cigarro de palha a fim de espantar os pernilongos. De posse da sua lanterna de
estimação, ia iluminando a margem e vasculhando tudo que desse alcance.
Foi
neste momento que um chacoalhão quase levou sua vara. Instintivamente, puxou- a
tentando fisgar o peixe que logo mostrou ser dos bons. Entre o movimento da
vara e a tentativa de segurar o cigarro e a lanterna, esta levou a pior e caiu,
ainda acesa, rio a dentro, para tristeza do dono. O peixe, por sua vez, ou não
havia sido fisgado ou simplesmente conseguiu se livrar de modo que, em
instantes, lá estava o velho pescador sentado em seu barco desolado sem peixe e
sem sua lanterna preferida.
A
vida é uma sucessão de perdas mesmo, pensava calado o pescador enquanto lançava
nova tentativa na água.
Mal
a isca tocou a água e, novamente, iniciou-se aquela que seria a melhor pescaria
de sua vida. Peixe grande, briga boa e cansativa. Solta o barco, enrola a linha
e a ficção da carretilha avisa que ele não iria desistir sem lutar. Enrola e
enrola linha e a camisa do velho pescador começa a molhar de suor comprovando o
esforço da vitória. Finalmente o bicho mostra a cara e, com auxílio da fisga
bem posicionada pelo amigo piloteiro, conseguem embarcar o monstro que seria
motivo de infinitas glórias de boteco e rodas de amigos. Era digno de foto, que
logo mais o faria tão logo conseguisse uma balança que suportasse seu peso.
Mas
o melhor de tudo aconteceu quando foi tirar o anzol que o caçou. Logo que abriu
a boca, imaginem, lá estava a tão apreciada lanterna que, de tão boa, ainda
estava acesa.
Este
texto é uma homenagem ao meu grande amigo e pescador Duval Vilanova ( in
memorian). A história era contada por ele, mas a alegria de ouvi- lo sempre foi
nossa.
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