Conto selecionado para compor o livro
E amanhece novamente naquela pacata cidade do interior. Pessoas levando seus filhos à escola em seus carros socialmente aceitos ou a pé, como manda a boa forma, e por que não dizer a sábia cultura oriental de levar a vida.
E, por falar em boa forma, lá vou eu novamente à academia tentar assassinar meus quilos indesejáveis. Claro que o grande motivo é manter a forma mesmo que, no âmago de nossos sentimentos, façamos fila com todos os obesos do local. Sofredores incontroversos, sorrimos aos olhares discretos dos elegantes atletas que deveriam fazer aula em horário próprio – mera questão de justiça.
Trepando sobre minha amiga e companheira de pensamentos solitários – a esteira elétrica – início da jornada rumo ao desconhecido. Da visão suada, e não menos deslumbrada por aquele dia lindo de outono, vejo todos que param na rua e analiso um a um em ofegante silêncio.
Sob um sol claro e vento singelo, estaciona um velho utilitário que praticamente “vomita” uma gorda tenebrosa. Coitada! Sabe lá quais os motivos que a fazem sofrer a ponto de optar pela academia àcirurgia direta de redução de estômago. Acho que se deve ao infinito otimismo dos obesos. Ser gordo, além de saboroso, é motivo para fazer grandes amigos. Todo gordinho é boa praça, bom amigo, confidente e até, em poucos casos, bom amante, mas somente em poucos porque sentir o que não se pode ver é coisa da era do iluminismo.
E a “vomitada” gordinha – que trato carinhosamente porque parece ter uns cento e cinquenta quilos - atravessa a rua meio ofegante e volto a pensar: mas se nem começou a se exercitar por que estaria ofegante? Estresse pré-traumático? Ansiedade? Talvez dificuldade em arrastar-se academia a dentro!
A perco de vista e sinto a boca salgada. Claro, fiquei tão intrigado com a miss adiposa que esqueci de limpar o próprio suor...normal.
Nos fios da rede elétrica, um casal de pombos enamoram-se com roçar de cabeças ao som de piados roucos e abafados.
E a manhã segue agora iluminada por um sol brilhante de outono que logo raiou sobre aquele belo veículo importado de onde desceu o que poderia ser considerada a vilã da academia. Uma moça jovem, dona de pernas esculpidas por todo tipo de desejo saudável e bumbum que fez todo o time de “esteirantes” local, de ambos os sexos, prestarem atenção a sua passada.
Olhando a cena fiquei pensando o que passaria nas cabeças dos ali enfileirados em suas esteiras onde também me encontrava. O rapaz ao meu lado manifestou desejos que, pelo mostrar discreto da língua, me recuso a declinar. O homem maduro ao seu lado, bom: que fique claro o significado de “homem maduro”- sexagenário cortador de filas bancárias - mostrou um olhar de curiosidade simplesmente ridículo. Me fez pensar que há muito não entendia o que seria aquilo ou qual serventia teria. Tudo bem que, a julgar pelo porte do carro, deveria servir apenas para “aquilo” que o jovem mostrara interesse. Se bem que estaria de bom-tom. . . e novamente o lábio ficou salgado com o suor que rapidamente enxuguei.
O gosto salgado do suor no lábio pode parecer nojento a todos que me lêem; mas, sinceramente, não acho porque trata-se do meu suor. O único inconveniente que sinto é ser imediatamente reportado aos quitutes e todo tipo de delícias que acompanham uma boa e gelada cerveja. . . coisa de gordo em exercício.
Mas voltando ao povo “caminhadamente” ofegante a meu lado. Depois do tiozinho sexagenário estava a gorda “vomitada” do carro que, andando em passos lentos, ao ver a moça ameaçar entrada na academia também ameaçou – fugir de lá!
Olhou com tamanha fúria assassina para a donzela que ensaiei um auxílio imediato caso atacasse a pobre belinha, afinal, que culpa tinha ela de não comer bem ou, quem sabe, ser portadora de algum tipo de insensibilidade na língua? Talvez tenha um marido (eu vi a reluzente aliança) austero que limite sua vontade de comer. Fico pensando até se a coitadinha não seria uma anoréxica enrustida ou com doença ainda não diagnosticada, uma coitada mesmo.
A entrada da moça no recinto retirou da gorda um olhar de tamanha indignação que a fez olhar com fúria para os pombos inconformada; mas, de certa forma, atraída por eles.
Por um instante jurei ser ela capaz de comer a ambos com uma dentada para cada um. . . foi horrível, coisas de gordo com raiva.
Tudo bem! Confesso ter sido atraído pela moça, mas todos somos reféns de nossa curiosidade. Impossível não notar a entrada da gorda “vomitada” do carro tirando olhares de esguelha acompanhados de manifestações “sombrancelheais” como quem diz: deixe-me pegar firme ou fico nessa fossa. Por outro lado a entrada da fêmea perfeita iluminou todos os olhares masculinos desejosos de seus pensamentos impuros acotovelando-se com os femininos invejosos da atenção concentrada.
Ora, se estamos aqui a sofrer por um corpo melhor, nada mais justo que conhecer de uma só vez o céu e inferno . . . e finalmente acabou meu tempo na esteira.
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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
O L H O S D E C R I A N Ç A
Os
olhos de uma criança
São
portas de um mundo de esperança.
Quem
os vê
Com
elas compartilha
o
amor e a alegria.
De
ver a vida
como
sua melhor amiga.
São
flores de um jardim florido.
Com
diversas cores.
Cores
dos amigos tidos.
Dos
amores sem seus dissabores.
Mostram
quem um dia fomos.
Perseguindo
sonhos na busca de um futuro vil
que
de já nos colocamos.
A
girar feito os velhos discos de vinil.
Elas
não se preocupam com os rótulos da vida moderna
Afinal,
não conhecem o antigo
Muito
menos os caminhos a que levarão suas pernas
Pois
da Vida só viram o início . . .desconhecem o pingo.
E os
olhos cor de sol vão vivendo olhando tudo
Avaliando
o mundo
Com
olhar singelo
De
esperança nua
Simples
. . . e crua
Como
a Vida deve ser vista.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
VOZ DO SILÊNCIO
Quando digo que te
amo
Queria que me
dissesse três vezes mais
Te amo, te amo, te
amo.
Meu coração precisa
de frases
Preciso ouvir sua voz
cantando
Aos meus ouvidos
dedilhando
Quando bem próximos
nos olhamos
É dentro de mim que
você vê
Um sentimento próximo
e capaz de ser tocado
Como músicas que
tanto embalam versos natos
Este coração é
exclusivamente seu
Com grilhões de
alegria espacificante
Explosão da
retribuição buscada . . . almejada
Quando acordar me
agarre com força
diga baixinho:
Te amo, te amo, te
amo.
Colemos as faces em
elipse côncava
Feito escultura
moderna que não se entende . . . e sente
Ao dormir
Ao acordar
Quando sorrirmos
Quando brigarmos
A cada hora
A cada minuto
Repita incessantemente:
Te amo, te amo, te amo.
E só assim terei a
certeza
que os versos ao
coração que inundo
serão mais que mero
sentimento único
não ouro de tolo
ou um diálogo mudo
mas o maior amor do
mundo.
domingo, 6 de fevereiro de 2011
OS TRÊS
Uma quinta-feira
Um paiol
Uma vila
Um anzol
Um machado
Um talher
Um cajado
Uma mulher
Uma cama
Uma noite
Uma dança
Um pernoite
Um filho
Uma vida
Um ninho
Uma Diva
Um sorriso
Um chamego
Um corisco
Um apego
Uma vida
Um adulto
Uma ida
Um insulto
Um choro
Uma saudade
Um coro
Uma maldade
Uma volta
Uma alegria
Um abraço
Desagonia
Três mundos
Uma única Vida.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
S A U D A D E
O coração, às vezes,
sangra
e nossas desilusões
brotam. . . feito sombras
cogumelos que nascem
do nada. . . do ócio
“Uma vida pode ser
tão vazia quanto a solidão que pode suportar”
Minha vida não é
vazia nem sangra
Mas a saudade de ti
faz de mim moribundo
Somos os dedos da
mesma mão
Precisamos um do
outro
para tocar nossas
músicas
ou apenas
acalentarmos um ao outro
Estendo a mão e não lhe
vejo
Respiro fundo e não lhe
ouço
Sorrio e não lhe
sinto
Não sei onde estás
Não conheço o caminho
que leva a você
A única coisa que sei
é a falta que seu cheiro causa
Já não durmo
tranquilo
Já não caminho
sozinho
Acordo e me deito
Levanto e não ando
Respiro
E ofego
Acho que estou
morrendo aos poucos
e não quero ser
socorrido
Sem sentido nada pode
valer a pena
Sem você minha vida
não fará sentido
Desculpe se te amei
Esse foi o mal que me
fiz
e do qual. . . jamais
conseguirei me livrar
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